quinta-feira, 22 de novembro de 2012

MORDOMIA DO PENSAMENTO




A mordomia significa: Cargo ou ofício de mordomo [Do lat. vulg. majordomu, ‘o criado maior da casa’.]. 1.Administrador dos bens de uma casa, de uma irmandade, de uma confraria, etc.; ecônomo. 2.Serviçal encarregado da administração duma casa (1); mordomado. 2.Bras. Vantagens tais como moradia, condução, criadagem, alimentação, etc., proporcionadas pelo empregador (privado ou público) a certos executivos.


              



              Recebendo A Ministração De Deus Em Nossas Mentes

Testos básicos:
Fp 4.8; 1 Co 2.9-16; 1 Co 2.16

Pensamento. Ato ou efeito de pensar, refletir, meditar; processo mental que se concentra nas idéias; Faculdade de pensar logicamente; o produto do pensamento; idéia; Reflexão, meditação; Fantasia, sonho, imaginação, etc.

“as coisas que os olhos não viral, nem ouvidos ouviram...” (1 Co 2.9), ou seja o que o homem não pode aprender por si mesmo através dos seus sentidos físicos (vs. 9), Deus revelou através do seu Espírito Santo, aos que o amam. Para ter esse discernimento da revelação do pensamento de Deus, é preciso ter o Espírito de Cristo. É preciso nascer de novo no VS 12, Paulo estabelece um contrate entre o espírito do mundo e o Espírito que provem de Deus: o espírito do mundo é o pensamento carnal, o que o homem pode conhecer através dos seus sentidos físicos, com a sua mente desvirtuada pelo pecado; portanto, uma visão distorcida de si mesmo e de toda a criação.
O homem regenerado possui o Espírito que provem de Deus. A este homem é dado conhecer gratuitamente, por meio de Cristo, a plenitude da verdade “...nós temos a mente de Cristo”. Ter a mente de Cristo é pensar como o próprio Cristo e ter a sua natureza.
A ciência tem investido recursos imensos a fim de desvendar os segredos imensos a fim de desvendar os segredos da mente humana, mas muito pouco se sabe, na realidade, sobre como funciona o nosso cérebro. Não existem limites para o numero de coisa, números símbolos imagens, Sons, sensações que a nossa mente pode armazenar. O gosto, o cheiro, a imagem, o grito perdido no meio da multidão, algo bem simples que ocorra em fração mínima de segundo, pode puxar da memória dados dos locais, fatos perdidos remotos, pode acrescentar a todos esses cognitivos que só existirão em nosso pensamento. É o que chamamos memória: símbolos, sensações. Idéias que foram sendo gravados cumulativamente em nossa mente. O pensamento humano abrange quatros (4) fases distintas, a saber:
1ª – A memória, o que é acumulado nos registros do cérebro, através dos sentidos físicos.
2ª – A analise, a avaliação dos dados da memória, a reflexão.
3ª – A imaginação, ou fantasia o que só existe internamente, sem relação formal com a realidade externa, relacionada com as emoções, com os desejos inarticulados (que não produzem, nem se realizam) e sonhos.
4ª– A elaboração do pensamento (a associação entre os dados guardados na memória e a imaginação) em ordem, para ser aplicado à realidade externa, à vida.

Mente Santificada

O salmista diz: “escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti” Sl 119.11. Esconder, aqui, é guardar, do valor no intimo, deixar que a palavra penetre profundamente na alma, no subconsciente, devido ao amor devotado ao seu autor.
Nossa mente é abastecida pelos significados de tudo o que vemos , ouvimos, sentimos e fazemos. Ouvir, ler, meditar, decorar, interpretar profeticamente na maneira de viver, são os meios através dos quais a palavra de Deus penetra em nosso coração e limpa, purificando, santifica a nossa memória, dá-nos o discernimento espiritual da verdade. Ajuda-nos a conduzir nossa imaginação, nosso sonhos, na direção da santidade do autor da palavra. “como purificarão mancebo o seu caminho?” Sl 119.9, pergunta o salmista, para responder em seguida: “observando-o segundo a tua palavra”.
Pessoas que se queixam da não poderem controlar pensamentos de impureza, ira, cobiça, inveja, pode ver, são pessoas que não procuram guardar a palavra de Deus nos seus corações.
Num tempo de tanto misticismo (intensa devoção religiosa, que produz uma crença fanática de uma idéia), temos visto os maiores absurdos nesta matéria. Pessoa que usam versículos da Bíblia escritos em papeizinhos como patuás, colocam a Bíblia debaixo do travesseiro ou aberta no meio da sala, de preferência no salmo 91; fazem uma lista de pecados cometidos e jogam a lista na fogueira ou a soltam para o céu em balões de gás; nada disso corrige a vida impura e santifica a mente e nem da paz.
 A santidade da vida é o resultado da mente, que se adquire pelo conhecimento e pratica da palavra de Deus. Não há uma formula mágica, instantânea. É processo longo, não raro penoso, pois fere nossa estrutura mental pecaminosa, quanto mais à mente estiver saturada da palavra de Deus, mas pura Poderá ser a sua vida.
Sl 19.14 “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, SENHOR, rocha minha e libertador meu!”

Sl 1.2 “Antes, tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Js 1.8 “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás”.

1Tm 4.15,16 “Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem”.

O Pensamento Dominado Pelo Amor

Rm 5.5 “E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado”. O amor de Deus foi nos dado quando da nossa conversão a Cristo, é o referencial absoluto para que a nossa mente tenha os pensamentos de Deus. Fp 4.8 “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Vamos ver esta mesma verdade do lado avesso: “tudo o que é mentira, desonesto, injusto, odiável, de má-fama, se trás pecado ou condenação, Nisso Não Deveis Pensar”.
Como? O que faz diferença? É possível controlar os pensamentos? A resposta é o amor. Primeiro. Depois, o amor ao próximo, no mesmo nível do amor a si mesmo. À medida que o nosso pensamento for dominado pelo amor de Deus e ao nosso próximo, a nossa vida terá uma vida de paz. Fp 4.7 “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” Isto significa que esta além da nossa compreensão a natureza e a profundidade da paz que resulta de um pensamento direcionado pelo amor. O Amor prende e segura, da memória somente os dados positivos, benéficos. O amor não apagar da memória os fatos ruins, mas analisa-os á luz do perdão. Fp 2.5 De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. 1 Pd 4.1 “Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento: que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado”.
O amor torna impossível a gestação de fantasias malignas, de imaginação pecaminosa. O pensamento elaborado sob a tensão de um amor puro é sempre um pensamento construtivo. Produz paz e torna em nós a presença de Deus. Fp. 4.9 “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.

Pensamento Dominado Pela Fé

A mordomia do pensamento nos leva a ultrapassar a barreira do conhecimento através da fé. 2 Cr 20.20 “E, pela manhã cedo, se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa; e, saindo eles, pôs-se em pé Josafá e disse: Ouvi-me, ó Judá e vós, moradores de Jerusalém: Crede no SENHOR, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis”. – Rm 10.8 “Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos”.

O homem natural só acredita naquilo que os seus sentidos físicos podem captar Jo 20.24,25 “Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. Ele precisa ver alguma imagem, figura, um objeto material, um copo d’água, azeite escorrendo , precisa tocar com os dedos para poder crer.  “Depois, disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente”. Jo 20.27
Vs. 29 “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!”
Mt 14.30,31 “Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pequena fé, por que duvidaste?” Essa é a origem da idolatria.

A fé vê o invisível e espera pelo impossível. Dessa maneira, a fé abre a porta do infinito à nossa mente.
Mt 15.28 “Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã”.
Mt 9:2 “E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados”.
Mt 9:22 “E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã”.

Não estamos limitando as informações guardadas em nossa memória, mas o nosso pensamento pode avançar, pode ousar sonhar com a vida eterna e saber que isto não é fantasia inoperante, mas esperança que antecipa a glória.
A fé é como uma placa de memória que amplia ao infinito o alcance da mente humana.
1.      Quanto à memória: “...vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26) e esse é pleno conhecimento dos ensinos de Jesus e o segredo da paz (vs. 27 “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.).

2.      Quanto à avaliação: Os dados da memória “Mas o que é espiritual discerne bem tudo...” 1 Co 2.15 é esse o segredo da verdadeira sabedoria (vs.13 “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais”.

3.      Quanto à imaginação: “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam”. 1 Co 2.9. É esse o segredo do conhecimento das profundezas de Deus (vs.10 “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”.

Em Relação do Pensamento:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro [a essência da verdade], tudo o que é honesto, tudo o que é justo [intrinsecamente justo], tudo o que é puro, tudo o que é amável [aquilo de que se pode gostar], tudo o que é de boa fama [aquilo de que se pode falar bem], se há alguma virtude [alguma qualidade do caráter, e se há algum louvor], nisso pensai ou ocupe o vosso pensamento” Fp 4.8.  O verbo usado por Paulo (27 vezes só em Filipenses), traduzido por “pensai”, é logizomai, que significa ponderar, calcular, avaliar.
Cabe, aqui, uma advertência. O homem não é deus. Rm 11.34 “Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?” 1 Co 2.16 “Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?...”
As expressões “pode mental”, “mentalização”, corrente do pensamento positivo”, poder interior” e outras, são formulas esotéricas (sistema filosófico religioso oculto e ocultista e caracteriza-se pelo estudo sistemático dos símbolos) que atribuem à mente humana “desenvolvida” poder sobrenatural que a mente humana não possui.

Mordomia do Conhecimento

Na mente do mordomo cristão há lugar para conhecimentos de artes e ciências. Muitos cientistas têm sido cristãos fervorosos. Não há nem sombra de incompatibilidades entre a ciência e a fé cristã. A verdadeira fé amplia as possibilidades do uso da verdadeira ciência e a verdadeira ciência amplia o potencial da Fe.
Um cientista que tenha profundos conhecimentos sobre o espaço cósmico ter a uma visão mais clara de que “os céus declaram a glória de Deus” “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”. Sl 19:1.
 Um botânico o pode entender com maior clareza o que a Bíblia diz sobre cada planta poder se reproduzir “segundo a sua espécie” “E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi’. Gn 1.11
Por outro lado, um artista cristão sempre terá maior motivação para desenvolver a sua arte, pois, além de possuir talento, ele confia na graça de Deus e na gloria do seu poder, como Johann Sebastian Bach que escrevia na suas musicas: “para a glória de Deus”.
Há uma diferencia: o cientista ateu vai até o possível, até o verificável. O cientista cristão segue em frente, pois “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem”. Hb 11.1. Se Moises fosse um cientista ateu, ele mandaria calcular a profundidade do mar vermelho, a distância percorre, e dirá “estamos perdidos”. Moisés era um homem de elevado nível de conhecimento e de inteligência e de extensa cultura, mas um homem de fé. “Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas”.Ex 14.21.

Em Cristo.......
Um Abraço para todos........
 
 Pr. Capelão
Edmundo Mendes Silva

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CULTO E ENTRETENIMENTO…


Vide­mus nunc per spe­cu­lum…
(1 Co 13.12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido”.)

Para Freud, a sani­dade do indi­ví­duo está no con­fronto dosado entre o prin­cí­pio do pra­zer e o prin­cí­pio da rea­li­dade, entre­tanto, no mundo domi­nado pela ide­o­lo­gia do entre­te­ni­mento, promove-se um com­por­ta­mento pato­ló­gico decor­rente do hipe­res­tí­mulo do ele­mento “pra­zer”, em con­traste com a subli­ma­ção do refe­ren­cial da rea­li­dade. Por essa razão, con­quanto sejam vários os ele­men­tos con­ju­ga­dos que com­põem o atual qua­dro que con­forma a soci­e­dade do espe­tá­culo (tais como o sexo, a vio­lên­cia e o jogo), nesta abor­da­gem, nos limi­ta­re­mos àquele que lhe é mais notó­rio e cari­cato: o entretenimento.
Sim, o ele­mento que marca a per­su­a­são espe­ci­a­li­zada do dis­curso espe­ta­cu­lar é o Jogo, isto é, a diver­são, o lúdico, o brin­quedo, o pas­sa­tempo, o entre­te­ni­mento — e é mais fácil experimentá-lo do que explicá-lo. Ten­te­mos, assim mesmo, com­pre­en­der melhor o que é isso de que esta­mos falando (e, tão fre­quen­te­mente, usufruindo).
Em por­tu­guês, a pala­vra jogo tem ori­gem latina em jocus, gra­cejo, graça, pilhé­ria, mofa, escár­nio, zom­ba­ria. A rela­ção com o humor, o riso, o cômico fica evi­dente. Quanto à pala­vra diver­são, do latim diversìo,ónis, remete a “digres­são, diver­são”, do verbo divertère, afastar-se, apartar-se, ser dife­rente, diver­gir. Tal termo sugere um des­vio do cor­rente por meio do dis­tan­ci­a­mento, o que o liga ao con­ceito de ali­e­na­ção. A pala­vra lúdico, car­rega a idéia de sua eti­mo­lo­gia ludi­brium, que denota joguete, zom­ba­ria, insulto, ultraje, engodo e ludìus, que é o pan­to­mimo, o come­di­ante. Ao termo lúdico tam­bém se liga a brin­quedo, defi­nido como algo “que se faz por gosto, sem outro obje­tivo que o pró­prio pra­zer de fazê-lo”. A pala­vra brin­quedo inclui, ainda, o ele­mento de com­po­si­ção ante­po­si­tivo brinc-, ou vrinc- (vin­clu), que sig­ni­fica ligar, pren­der, amar­rar, atar, jun­tar, enfim, sugere a idéia de liame, laço, ata­dura, vín­culo. Sugere a idéia de algo a que alguém se liga por mero pra­zer. A expres­são pas­sa­tempo, por sua vez, sugere a ati­vi­dade que se faz por puro diver­ti­mento, para “matar o tempo”, como se diz popu­lar­mente, e tam­bém sugere uma digres­são, um des­vio, não somente do con­texto de espaço, suge­rido pela pala­vra diver­são, mas da pró­pria noção de tempo. Todos esses ter­mos estão con­cen­tra­dos de maneira muito par­ti­cu­lar na noção de entre­te­ni­mento que carac­te­riza a soci­e­dade espe­ta­cu­lar e, par­ti­cu­lar­mente, o uni­verso medi­ado (cf. HOUAIS, 2001).
Um estudo rele­vante sobre o entre­te­ni­mento na soci­e­dade moderna foi feito por Neal Gabler que, tomando a soci­e­dade esta­du­ni­dense como refe­rên­cia, pro­cura enten­der por que o entre­te­ni­mento se tor­nou o seu valor número “um”.
De fato, Karl Marx e Joseph Schum­pe­ter pare­cem ter errado ambos. Não se trata de nenhum “ismo”, mas tal­vez o entre­te­ni­mento seja a força mais pode­rosa, insi­di­osa e ine­lu­tá­vel de nosso tempo — uma força tão esma­ga­dora que aca­bou pro­du­zindo uma metás­tase e virando a pró­pria vida (GABLER, 2000, p. 17).
Gabler pro­cura demons­trar o nexo exis­tente entre entre­te­ni­mento e sen­sa­ção. O ele­mento sen­só­rio do entre­te­ni­mento é tão cen­tral que está envo­lu­crado na pró­pria pala­vra. Como notou o autor, eti­mo­lo­gi­ca­mente, entre­te­ni­mento vem do latim inter (entre) e tenere (ter). Con­quanto se entenda entre­te­ni­mento como sendo “aquilo que diverte com dis­tra­ção ou recre­a­ção” ou “um espe­tá­culo público ou mos­tra des­ti­nada a inte­res­sar ou diver­tir”, na cons­ti­tui­ção mesma da pala­vra está pre­sente a idéia de “ter entre”. Isto é, os fil­mes (cinema), os musi­cais (shows), os roman­ces e as his­tó­rias em qua­dri­nhos (livros), as tele­no­ve­las (TV), os jogos ele­trô­ni­cos, para citar alguns, atraem os indi­ví­duos, “mantendo-os cati­vos” levando-os cada vez mais para den­tro de si mes­mos, de suas emo­ções e sen­ti­dos (nova­mente a idéia de espe­lho da rea­li­dade inte­rior do indivíduo).
Gabler sugere que com o entre­te­ni­mento se dê o oposto da arte. A idéia que se tinha era a de que a arte propiciava o ecks­ta­sis — cuja idéia é a de “dei­xar sair, colo­car para fora”; enquanto que “o entre­te­ni­mento em geral for­nece jus­ta­mente o oposto: inter tenere, puxando-nos para den­tro de nós mes­mos para nos negar a pers­pec­tiva”. Se a arte era diri­gida a uma pes­soa, o entre­te­ni­mento se volta ao maior número pos­sí­vel de pes­soas, isto é, lida com uma pla­téia nume­rosa que é con­si­de­rada como massa, “um con­junto de esta­tís­ti­cas”.
Se a arte é con­ce­bida como inven­ção, o entre­te­ni­mento é tido como conven­ção, por­que “busca cons­tan­te­mente uma com­bi­na­ção de ele­men­tos que já des­per­ta­ram certa rea­ção no pas­sado, na supo­si­ção de que a mesma com­bi­na­ção pro­vo­cará mais ou menos a mesma reação de novo”.
As emo­ções e as sen­sa­ções são os fins do entre­te­ni­mento e isso ele obtém por­que se apre­senta “diver­tido, fácil, sen­sa­ci­o­nal, irra­ci­o­nal”. Manuel Cas­tells comenta o fato de que a expec­ta­ti­vas de demanda por entre­te­ni­mento “pare­cem ser exa­ge­ra­das e muito influ­en­ci­a­das pela ide­o­lo­gia da ‘soci­e­dade do lazer’”. Trata-se de um mundo onde os sen­ti­dos triun­fa­ram sobre a mente, a emo­ção sobre a razão, o caos sobre a ordem, o id sobre o supe­rego. A esté­tica do entre­te­ni­mento torna-se cada vez “maior, mais céle­bre, mais baru­lhenta, como se o desejo de uma sobre­carga sen­só­ria fosse, assim como o sexo, um impulso bio­ló­gico em estado bruto, difí­cil de resis­tir”.

CULTO ESPE­TA­CU­LAR
His­to­ri­ca­mente, a reli­gião ins­ti­tu­ci­o­na­li­zada opôs-se vee­men­te­mente ao entre­te­ni­mento, a exem­plo da pre­ga­ção de João Cri­sós­tomo (354 – 407). E constata-se a freqüente repres­são e cen­sura reli­gi­osa que mar­cou a sepa­ra­ção entre o mundo secu­lar e a reli­gião tra­di­ci­o­nal, ao longo de toda a Idade Média, e que se dis­se­mi­nou prin­ci­pal­mente entre os pro­tes­tan­tes puri­ta­nos. Estes se nota­bi­li­za­ram pelas objeções às expres­sões popu­la­res “licen­ci­o­sas”, tais como dra­ma­ti­za­ções, can­ções, dan­ças, jogos e fes­tas sazonais. Entre­tanto, em mea­dos do séc. XIX, teve iní­cio uma rup­tura com essa pos­tura his­tó­rica em rela­ção ao entre­te­ni­mento. Isso coin­ci­diu com o sur­gi­mento de um grande número de novas deno­mi­na­ções reli­gi­o­sas, que pas­sa­ram a dis­pu­tar os fiéis como os esta­be­le­ci­men­tos comer­ci­ais con­cor­ren­tes dis­pu­tam cli­en­tes. Segundo Gabler, a pro­li­fe­ra­ção de inú­me­ras deno­mi­na­ções reli­gi­o­sas dife­ren­tes, que rapi­da­mente se expan­diam e espa­lha­vam, nos Esta­dos Uni­dos do séc. XIX, “entre as quais se podia esco­lher livre­mente”, resul­tou em uma prática reli­gi­osa que se tor­nou “tão alta­mente diver­tida que aca­bava por minar bas­tante as expres­sões obri­ga­tó­rias de des­dém diri­gi­das ao entre­te­ni­mento”. Referindo-se ao pro­tes­tan­tismo evan­gé­lico, Gabler afirma tratar-se de “uma reli­gião demo­crá­tica — alta­mente pes­soal e não hie­rár­quica, ver­ná­cula, expres­siva e entu­siás­tica” que “evi­tando a dou­trina e o come­di­mento” pre­fe­riu a emo­ção à teo­lo­gia. Isso por­que essa estra­té­gia fun­ci­o­nava melhor para atrair o público do que as tra­di­ci­o­nais pos­tu­ras puri­ta­nas.
A pro­fun­di­dade da fé passa a ser medida não pela plau­si­bi­li­dade teo­ló­gica dos seus pos­tu­la­dos, mas pela intensi­dade da emo­ção sen­tida pelo indi­ví­duo que se aban­dona no fer­vor reli­gi­oso, expe­ri­men­tado no con­texto dos cul­tos. Em tais cul­tos, os fiéis são toma­dos por “ata­ques de cata­lep­sia, con­vul­sões, visões, aces­sos incon­tro­lá­veis de riso, súbi­tas explo­sões de can­to­ria e até mesmo de lati­dos [urros, gemi­dos, gru­nhi­dos, e todo tipo de afe­ta­ção]”. Essa prá­tica marca o maior movi­mento reli­gi­oso da atu­a­li­dade, não somente nos Esta­dos Uni­dos, mas em todo o con­ti­nente ame­ri­cano e em mui­tas outras regiões do pla­neta. Na cons­ta­ta­ção, “ao rejei­tar uma reli­gião raci­o­nal em favor de uma reli­gião emo­ci­o­nal e imo­de­rada” os evan­gé­li­cos ter­mi­na­ram por disseminar-se “nas mes­mas filei­ras do entretenimento”.
Assim, a tea­tra­li­dade começa a “insinuar-se nos ser­vi­ços reli­gi­o­sos”: ser­mões outrora mar­ca­dos pelo severo rigor teo­ló­gico dão lugar a ane­do­tas, his­to­re­tas, epi­só­dios engra­ça­dos e apar­tes colo­qui­ais; ritu­ais cir­cuns­pec­tos são subs­ti­tuí­dos por mani­fes­ta­ções extá­ti­cas, con­du­tas extra­va­gan­tes e exul­ta­ções jovi­ais — em grande sin­to­nia com a ascen­são da cul­tura popu­lar. Até o final do século XIX, a cul­tura popu­lar já se trans­for­mara na cul­tura domi­nante nos Esta­dos Uni­dos e, por essa razão, Gabler afirma que, “dali em diante” esta­ria decla­rada e pro­mul­gada a “a Repú­blica do Entre­te­ni­mento” (GABLER, 2000, p. 37), e esta, desde então, vem se expan­dindo por toda parte.
Em nos­sos dias, mais do que tudo, pode-se veri­fi­car o resul­tado disso tudo para o culto público, tanto das igrejas de con­fis­são cristã como o das dife­ren­tes expres­sões e cul­tu­ras religiosas.
Pode­mos arris­car a seguinte cate­go­ri­za­ção:

  •      1ª. Geração: cele­bran­tes midiá­ti­cos intui­ti­vos;
  •        2ª. Geração: cele­bran­tes midiá­ti­cos tec­ni­cis­tas; e
  •       3ª. Geração: cele­bran­tes midiá­ti­cos especialistas.
Esta­mos viven­ci­ando, ainda, o final da pri­meira gera­ção, a dos cele­bran­tes midiá­ti­cos intui­ti­vos. Sem for­ma­ção na área tec­no­ló­gica ou da comu­ni­ca­ção medi­ada, mas com espí­rito empre­en­de­dor e grande ini­ci­a­tiva, são os pio­nei­ros da tele-religião e con­quis­ta­ram lugar defi­ni­tivo na mídia.
Aos pou­cos, essa pri­meira gera­ção vai dando lugar aos seus suces­so­res, já melhor pre­pa­ra­dos tec­ni­ca­mente para o desem­pe­nho do seu papel de tele-celebrantes. Mas trata-se ainda de uma pre­sença muito tímida. Estes sabem que a mídia exige a subs­ti­tui­ção do dis­curso oral-verbal pela expres­são imagético-visual. Sabem que o meio exige uma dinâ­mica mais veloz e ágil, esforçam-se para des­co­brir cami­nhos. Mas saber “o quê” não é o mesmo que saber “o como”. De modo que o que temos ainda é a repro­du­ção das cerimô­nias reais nos meios de comunicação.
Tere­mos que aguar­dar a pró­xima gera­ção, a dos espe­ci­a­lis­tas, que com o know-how acu­mu­lado à custa dos erros e acer­tos das gera­ções ante­ri­o­res, pode­rão ama­du­re­cer a inter-relação entre a fé na mídia e a mídia na fé.
No momento pre­sente, lamen­ta­vel­mente, ainda temos mui­tos tele-celebrantes incom­pe­ten­tes (tanto téc­nica como teo­lo­gi­ca­mente falando). Alguém já disse que não há nada pior do que um incom­pe­tente com ini­ci­a­tiva e empre­en­de­do­rismo. Os estra­gos que cau­sam podem ser irreversíveis.
É pre­ciso, por­tanto, mais do que ini­ci­a­tiva e espí­rito empre­en­de­dor. É neces­sá­ria uma Competência tec­no­te­o­ló­gica.
É notó­rio o des­pre­paro teo­ló­gico dos reli­gi­o­sos que estão em des­ta­que na mídia. Na área de Bíblia, percebe-se o quão super­fi­cial é o conhe­ci­mento demons­trado. O pro­ce­di­mento exe­gé­tico é tão raro que os pou­cos casos que even­tu­al­mente apa­re­çam são a exce­ção que con­firma a regra.
Em temos de teo­lo­gia, cris­to­lo­gia e pneu­ma­to­lo­gia dos tele-religiosos, a única coisa que é sis­te­má­tica é o desprezo pelos teó­lo­gos e por suas ela­bo­ra­ções teo­ló­gi­cas. São rarís­si­mas as alu­sões aos gran­des teó­lo­gos, sejam os da atu­a­li­dade, sejam os da his­tó­ria da Igreja. Quando algum deles é men­ci­o­nado, é para depreciá-lo, e desautorizá-lo com pilhé­rias e gra­ce­jos humi­lhan­tes. No entanto, a teo­lo­gia midiá­tica está muito mais pró­xima da medi­e­val do que da refor­mada, pelo esva­zi­a­mento do con­ceito da Graça, e pela ênfase numa sote­ri­o­lo­gia meri­tó­ria, base­ada na teo­lo­gia da retribuição.
Pas­to­ral­mente, não há a pre­o­cu­pa­ção com a cri­a­ção de “comu­ni­dade”, e a soli­da­ri­e­dade não é vir­tude que mereça lugar de des­ta­que. A edu­ca­ção cristã tam­bém está em baixa, o estudo é deses­ti­mu­lado com base na falá­cia de que a razão milita con­tra a fé. A con­cep­ção do culto deixa clara a igno­rân­cia his­tó­rica da cami­nhada litúr­gica, homi­lé­tica e hino­ló­gica do cris­ti­a­nismo (a ina­ni­ção litúr­gica é como­vente!). A mis­si­o­lo­gia pre­sente na mídia pouco tem a ver com a implan­ta­ção dos valo­res do Reino de Deus, anun­ci­ado por Jesus de Nazaré, mas está pre­o­cu­pada muito mais com as van­ta­gens e benes­ses que se pode aufe­rir da reli­gião. A poi­mê­nica midiá­tica é gene­ra­lista e gene­ra­li­za­dora. Inca­paz de um aten­di­mento pes­soal e huma­ni­zado pau­tado pelo bom-senso, limita-se a ofe­re­cer ori­en­ta­ções ali­nha­das aos este­reó­ti­pos e às gene­ra­li­za­ções do senso-comum – que amiúde é pre­con­cei­tu­oso, dis­cri­mi­na­tó­rio, redu­ci­o­nista, sim­plista, e, a rigor, reflete a ide­o­lo­gia dominante.
Diante de tanta incom­pe­tên­cia, qual é o segredo então do “tre­mendo” sucesso dos astros e estre­las da fé?
Este espaço não nos per­mite apro­fun­dar a ques­tão como gos­ta­ría­mos, no entanto, quero aqui fazer algu­mas indi­ca­ções que podem nos ajudar:
Pra come­çar, deve­mos tomar em conta a estra­té­gia da mídia, que, para alcan­çar seus obje­ti­vos, recorre a elemen­tos coer­se­du­to­res tais como o nar­ci­sismo, o meca­nismo de trans­fe­rên­cia, o fas­cí­nio das estre­las e os estereótipos.
Des­tes, gos­ta­ria de des­ta­car o fas­cí­nio das estre­las. “A estrela é arque­tí­pica” e fas­cina por­que se torna “a expres­são subli­mada das pró­prias cren­ças, das pró­prias neces­si­da­des”. A vene­ra­ção dos fãs pelas estre­las ou cele­bri­da­des nem sem­pre depende do talento des­tas e é comum que se dê mais impor­tân­cia às suas qua­li­da­des físi­cas do que à com­pe­tên­cia pro­fis­si­o­nal. No dizer de Neal Gabler, não é neces­sá­rio “haver talento algum para obtê-la [a fama]”, pois tudo de que pre­cisa é “a san­ti­fi­ca­ção da câmara de tele­vi­são. Para Fer­rés, “a pes­soa que seduz, de certo modo, se apo­dera da alma do sedu­zido”, num ato de vam­pirismo espe­ta­cu­lar, pois o sedu­zido se entrega incon­di­ci­o­nal­mente recon­fi­gu­rando sua pró­pria per­so­na­li­dade segundo os mol­des da estrela, por asso­ci­a­ção ou trans­fe­rên­cia de tudo o que ela encarna — a moda ditada pelas cele­bri­da­des seria um claro indí­cio desse pro­cesso (FERRÉS, 1998, p. 120 – 121). No campo reli­gi­oso, essa ten­dên­cia mimé­tica, ou vam­pí­rica, tam­bém é notó­ria na repro­du­ção de tre­jei­tos, expres­sões, pos­tu­ras e con­vic­ções ide­o­ló­gi­cas tanto por parte da lide­rança clé­riga quando laica, dita­dos pela moda reli­gi­osa espe­ta­cu­lar. São as estre­las que deter­mi­nam o padrão de beleza física, de pos­tura moral, de esta­tura espi­ri­tual… A repro­du­ção desse com­por­ta­mento espe­ta­cu­lar se nota, inclu­sive, na vene­ra­ção pia a expo­en­tes (astros) reli­gi­o­sos por parte de fiéis (fãs) devo­tos. Acon­tece que, em grande parte, isso se dá de maneira des­per­ce­bida e desa­per­ce­bida. Não se trata de um pro­cesso cons­ci­ente por­que, como exem­pli­fi­cou Fer­rés, “quando uma estrela parece ven­der lágri­mas, está ven­dendo sabão, e quando parece estar ven­dendo pro­du­tos, está ven­dendo valo­res” .
 
DESA­FIOS PAS­TO­RAIS PARA O CULTO NA IDADE MÍDIA
Vide­mus nunc per spe­cu­lum in enig­mate tunc autem facie ad faciem nunc cog­nosco ex parte tunc autem cog­nos­cam sicut et cog­ni­tus sum
(1 Co 13.12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido”.)

Retomo aqui os desa­fios que eu já havia apon­tado, anos antes, em rela­ção à homi­lé­tica, aplicando-os ao culto como um todo, e à reli­gião em geral, frente à soci­e­dade do espetáculo.
A reli­gião tra­di­ci­o­nal man­tém seu foco no sig­ni­fi­cado, ao passo que a espe­ta­cu­lar focaliza-se, sim, sobre o sig­ni­fi­cante ou sobre a forma da men­sa­gem enun­ci­ada. Entre­tanto, nem a con­ven­ci­o­nal, nem a espe­ta­cu­lar ajus­tam seu foco para cen­tra­li­zar os inter­su­jei­tos comu­ni­can­tes, isto é, nos seres huma­nos que estão inte­ra­gindo nesse pro­cesso comunicacional.
Tal­vez seja pos­sí­vel encon­trar alter­na­ti­vas para a tele-religião, mas essas só serão legí­ti­mas se con­se­guir­mos resis­tir à força desu­ma­ni­za­dora, robo­ti­za­dora, coisi­fi­cadora dos meios tec­no­ló­gi­cos, prin­ci­pal­mente os de comu­ni­ca­ção de massa. Está sobre a mesa a ques­tão da huma­ni­za­ção da mídia. Seria pos­sí­vel um pro­cesso de rever­são huma­ni­za­dora da ten­dên­cia coi­si­fi­ca­dora atual?
Será pos­sí­vel uma espi­ri­tu­a­li­dade medi­ada huma­ni­zada? Se de alguma forma isso for pos­sí­vel, só se dará mediante a inte­ra­ção de todas as pes­soas envol­vi­das como sujei­tos ati­vos que podem opi­nar e inter­fe­rir dire­tamente no curso do pro­cesso comu­ni­ca­tivo (tal inte­ra­ção deve ser pos­sí­vel entre as pes­soas e os meios, e entre as pró­prias pessoas) — não se trata mais de emis­so­res e recep­to­res de men­sa­gens, mas de inter­su­jei­tos comunicantes.
Será neces­sá­rio, ainda, por parte das igre­jas e dos fiéis, o enfren­ta­mento crí­tico e lúcido das “mega­mu­dan­ças” que ocor­rem no campo teó­rico e tec­no­ló­gico con­tem­po­râ­neo, o que implica na aber­tura para aceitá-las e, até mesmo, para promovê-las, quando per­ce­bi­das como fer­ra­men­tas legí­ti­mas que podem estar a ser­viço de uma ação ética, razoá­vel e democrática.
Essa espi­ri­tu­a­li­dade deverá tam­bém se pre­o­cu­par com a sen­si­bi­li­za­ção ética de todo o corpo humano: suas dores e pra­ze­res, suas dúvi­das e inte­res­ses; tra­tar com res­peito e con­si­de­ra­ção a emo­ção e o sen­ti­mento humanos.
Nas rela­ções com a soci­e­dade tec­no­ló­gica, se deverá bus­car a supe­ra­ção das redes de máqui­nas (de com­pu­ta­do­res, de TVs, de emis­so­ras de rádio…) por uma rede de gente: pois não faz sen­tido haver máqui­nas conec­ta­das se não hou­ver inte­ra­ção entre as pes­soas que as uti­li­zam. Deve-se bus­car, por­tanto, a cons­ti­tui­ção, ainda que vir­tual, de uma comu­ni­dade real. Isso implica na domi­na­ção das máqui­nas pelas pes­soas e não das pes­soas pelas máqui­nas (a maneira de dominar as máqui­nas é apren­der a usá-las). Tam­bém os homi­le­tas, litur­gos e hinó­lo­gos, deve­rão engajar-se na “alfa­betii­za­ção” tecnológica.
As comu­ni­da­des cele­bran­tes deve­rão ainda abrir-se às amplas pos­si­bi­li­da­des e esti­los inte­lec­tu­ais; engajar-se no desen­vol­vi­mento de uma inte­li­gên­cia cole­tiva (os resul­ta­dos da inte­li­gên­cia humana devem ser soci­a­li­za­dos para bene­fi­ciar a todos, bem como os pro­ble­mas podem ser resol­vi­dos cole­ti­va­mente, inclu­sive no âmbito da fé); e convencer-se de que sua mis­são, e sua tarefa espe­ci­fi­ca­mente comu­ni­ca­tiva, não se dão no iso­la­mento, antes, só é viá­vel se rea­li­zada cole­ti­va­mente na inter-relação, na multi-relação e mesmo na trans-relação entre sabe­res, com­pe­tên­cias e expe­ri­ên­cias tanto cog­ni­ti­vas como vitais.
Enfim, não será dese­já­vel uma única litur­gia, ou uma única homi­lé­tica, nem mesmo uma única hino­lo­gia, mas várias, inte­ra­gindo e inte­grando sabe­res e sabo­res, prosa e poe­sia, har­mo­nias e rit­mos, pala­vras e ima­gens… Ou então, como alter­na­tiva, se pode aspi­rar pela con­cep­ção de uma única liturgia-homilética-hinologia, mas com mui­tas faces: sen­sí­vel e poli­sen­so­rial, afe­tiva e comu­nal, dia­ló­gica e demo­crá­tica, multi e co-inteligente, inter-multi-transdisciplinar, huma­ni­zada e humanizante.
Não se deve esque­cer, por fim, que o acon­te­ci­mento cele­bra­tivo se dá sem­pre como pro­cesso de cons­tru­ção e recons­tru­ção memo­rial. Por­tanto, não seria demais repe­tir: o culto é, em parte, expec­ta­tiva e, em parte, memó­ria: é acon­te­ci­mento, é ins­tante, é alo­cu­ção, é atu­a­ção, é sta­tus pre­di­candi, é sedu­ção em anda­mento, é silên­cio em eloqüên­cia e som em per­su­a­são; enfim, o culto é (!). Nisso está o seu fas­cí­nio, seu encanto. Por um pouco é palavra/gesto esperado-desejado; num átimo, torna-se palavra-gesto encarnado-experimentado, para logo a seguir sub­mer­gir e res­sur­gir como memó­ria sagrada, pela dança dos ges­tos sagra­dos e das pala­vras bem-ditas.

Em Cristo
Pr.Capelão Edmundo Mendes Silva